segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nunca decline o sofrimento





Sofrer não importa, só lhe poderá fazer bem: o que é essencial é que você nunca decline o sofrimento. Também não importa que proteste, que se abata, que desanime, que chore e lance clamores: mas renunciar, nunca. Quando nos piores momentos lhe aparecer o tentador e lhe mostrar, em face da sua solidão, a companhia que sempre têm os simples, quando lhe mostrar em face das suas incertezas, a segurança dos outros, que nunca haja no seu coração nem um leve movimento de ceder: esteja os seus quarenta dias no deserto e aprenda o que não vem no Evangelho: que esses quarenta dias significam, para quem vale, a vida inteira. Pense sempre: como posso eu recusar este dom magnífico de sofrimento? Acharam-me digno de o levar comigo e hei-de pô-lo de parte? Confiaram-me o tesouro do rei e hei-de abandoná-lo às silvas do caminho? Haja o que houver, suporte; quando não puder ir de pé, vá de joelhos, depois arraste-se, mas avance sempre enquanto possa e nunca largue o tesouro.

                                                                            Sete Cartas a Um Jovem Filósofo
                                                                                    Agostinho da Silva


Vou portanto retirar-me os meus quarenta dias para o deserto. Vou estar ausente do meu blog durante esse tempo.



domingo, 29 de abril de 2012

sábado, 28 de abril de 2012

Tu não me fales estrangeiro rapariga

Isto é o que diz a Catarina quando eu a provoco e começo a falar em francês. E ainda acrescenta, fala antes em inglês. Não sei, só mesmo francês.



 

Panados de frango com pera williams vermelha

foto by: Inês

Esta receita surgiu ao jantar quando eu apressada, como sempre, descasquei a pera e a dei à Inês enquanto ela ainda estava a comer.
Foi então que a Joana lhe disse para comer a pera com o panado e se não comesse era uma mariquinhas. E ela comeu. A seguir comemos todos.
Experimentem.


Para os panados:
- Bifes de galinha temperados com sal e limão
- Ovo batido
-pão ralado
- óleo ou azeite para a fritura
Escorrem-se bem os bifes depois de meia hora de marinada, passam-se pelo ovo e batem-se no pão ralado com o punho fechado. Agora é só fritar e bom apetite.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ando à procura do meu Nirvana


Foi recentemente que ouvi falar em procurar o Nirvana. Uma pessoa de quem eu gosto e admiro muito, por tudo o que já viveu e por tudo o que não viveu, disse-me para procurar o meu Nirvana e que quando o encontrasse a levasse até lá. Nesse momento pensei: “Nirvana… aquela banda de rock? Também tenho uma?!”
 Na minha ignorância, perguntei então o que era.
Nirvana é o estado mais elevado do ser. As pessoas costumam dizer que atingiram o Nirvana quando se sentem muito felizes, ou então, falam de chegar ao Nirvana como se fosse uma recompensa eterna recebida após a morte. A tal banda de rock Nirvana adoptou o termo com uma certa dose de ironia.

Foi depois de ter ouvido falar no Nirvana que li o livro de Herman Hesse, Siddhartha.


Nirvana
Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;
Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;
Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;
Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro – é ter chegado
Aos extremos da paz e da ventura!

Antero de Quental, in "Sonetos"

 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril de 1977




Lembro-me da primeira vez que comemorei o 25 de Abril. Foi na escola primária quando fui para a primeira classe. Não me lembro muito bem de saber porque razão comemorava, sabia que tinha a ver com a liberdade e a revolução dos cravos e que devia ser muito bom pois havia festa. Nos muros brancos do adro da escola desenhamos e pintamos cravos de todos os tamanhos, o que provocou em nós uma alegria contagiante. A seguir fomos para o recreio e fizemos todos uma roda de mãos dadas onde cantamos a canção da gaivota.



terça-feira, 24 de abril de 2012

O livro mais dificil que li




Hoje começou a feira do livro, este ano não vou poder comprar nenhum, o mealheiro está vazio. Mesmo assim talvez ainda vá dar um passeio por lá. É sempre agradável.
Li o livro “Le procés” de Franz kafka há mais de vinte anos. Além de ser muito difícil de ler, li-o em francês, a história impressionou-me muito. De todos os livros que li até hoje, e foram muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitos, este é o que me vem sempre ao pensamento em qualquer altura; por vezes parece que eu mesma percorro aqueles corredores do tribunal, aquelas salas de audiência, sem saber muito bem porquê.





Para quem não leu o livro, este conta a história de um bancário, Josef K., que é processado sem saber o motivo. Era um bom funcionário com um cargo importante num grande banco. Na manhã dos seus 30 anos é detido no seu próprio quarto por 2 guardas. A partir daqui começa o seu pesadelo. Foi detido sem ter feito mal algum; a princípio imaginou que talvez fosse uma brincadeira por parte dos amigos e acreditava que tudo ia ficar esclarecido. No entanto o tempo foi passando e o processo ficava cada vez mais confuso, e sem alguém de confiança que o pudesse ajudar. Acaba por no final combinar com dois homens para que o matassem.

“(…) as mãos de um dos homens seguraram a garganta de Josef K. enquanto o outro lhe enterrava profundamente no coração a faca e depois a revolvia ali duas vezes.”

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vamos ao baile



Era tão emocionante ir ao baile em Martim quando eu era adolescente! Esses dias eram sempre esperados com muita ansiedade e entusiasmo por toda a rapaziada que nesse tempo ainda era bastante. Os bailes para festejar as festas do ano eram feitos no largo da capela nova, mas de vez em quando, aos domingos à tarde, eram feitos num armazém qualquer que estivesse disponível.
Como não sei descrever muito bem todas aquelas sensações que sentíamos, vou aproveitar um texto do José Luís Peixoto e copiar um pequeno excerto:

“… Agarrávamos com firmeza o par que nos calhava. Respirávamos fundo o ar trágico, sério, que a música nos oferecia, fechávamos os olhos e começávamos a dançar. Uma dobra de joelho e um passo de dois ou três centímetros, outra dobra de joelho e outro passo de dois ou três centímetros, sempre à volta, como um parafuso em câmara lenta. Ou, em alternativa, sem sair do lugar, apenas as dobras de joelho, uma, outra, outra, etc. Mas essa não era a parte importante. Aquilo que mais contava eram as faces coladas, a pele dos rostos a tocarem-se, era a cabeça dela a encontrar a sua forma exacta na curva entre o ombro e o pescoço, eram os cabelos dela. Aquilo que mais contava eram as mãos dadas, a temperatura das mãos, eram as mãos pousadas sobre o fundo das costas dela, a cintura, ou as mãos dela à volta do pescoço. Aquilo que mais contava, aquilo que contava eram os peitos colados, cada respiração, cada suspiro…”

(do livro Abraço, Passávamos tardes inteiras abraçados, pág. 175)






domingo, 22 de abril de 2012

Opções




"Se tomarmos uma opção que seja contra o que todos os outros pensam, o mundo não se desmorona."

sábado, 21 de abril de 2012

Esparguete com molho cor de rosa



Ingredientes: 

-350gr de esparguete
-1 lata das grandes de tomate pelado
-1 pacote de natas
-queijo ralado parmesão
-manjericão fresco
-azeite, sal e pimenta preta a gosto
 

Coze-se o esparguete em bastante água com sal. Numa panela põe-se o azeite a aquecer, mistura-se o tomate, o manjericão e tempera-se. Deixa-se ferver 10 minutos, retira-se do lume, junta-se o pacote das natas e o queijo. Mistura-se o esparguete, mexe-se bem e está pronto!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ia agora até à praia



 Praia do Esquecimento


Fujo da sombra; cerro os olhos; não há nada.
A minha vida nem consente
Rumor de gente
Na praia desolada.

Apenas decisão de esquecimento:
Mas só neste momento eu a descubro
Como a um fruto rubro
De que, sem já sabê-lo, me sustento.

E do sol amarelo que há no céu
Somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele
Quando nasceu.

David Mourão-Ferreira, in “Tempestade de Verão”


terça-feira, 17 de abril de 2012

Serenidade




“Assim como, em verdade, a terra recebe com serenidade tudo, puro e impuro, que se atira sobre ela, assim também aceitarás com serenidade tanto a alegria como a tristeza – se pretendes atingir a sabedoria.”








domingo, 15 de abril de 2012

Agostinho da Silva

Foi no mês passado na aula de yoga que ouvi falar pela primeira vez em Agostinho da Silva. O professor disse que ele foi um homem muito simples e humilde, sempre alegre apesar dos dissabores que teve na vida. Nasceu em 1906 e faleceu em 1996, foi um grande filósofo, poeta e ensaísta. Costumava dizer que era uma pessoa alegre mesmo na sua tristeza pois tinha dentro dele um rouxinol que não parava de cantar. Compreendo muito bem do que falava.




" Exige-se, para o perfeito amor, que o amado ame o amante; que este ame, em si próprio, o amante que ama o amado e que o amado ama, o mesmo tendo de haver no correspondente. Que os amantes amem nos amados os amantes que a eles os amam. Ou, mais simples; que o amor se ame."

sábado, 14 de abril de 2012

Florbela Espanca





“O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!”

Caldo de Botelha




Ingredientes

- 1kg de botelha
- 2 cebolas médias
- 1 tomate maduro
- 1l de água, azeite, sal e caldo Knorr a gosto

Partir tudo em cubos, temperar e levar a ferver meia hora. Passar com a varinha mágica. Polvilhar com manjericão fresco.

sexta-feira, 13 de abril de 2012




Objectivo




“Eu vivo para os que me amam,

Para os que me sabem justo;

Para o céu que sorri acima de mim

E também aguarda a minha alma.

Para a causa carecida de assistência,

Para o mal que carece de resistência,

Para o futuro à distância

E para o bem que eu posso fazer.”

foto by Joana


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Estou de volta

Estou de volta ao blog, porque das férias já regressei na segunda-feira. Antes de mais vou já aqui deixar dois livros que li durante estes dias e dos quais gostei muito.




A Armadilha de Dante conduz o leitor até Veneza, a cidade lagunar e cheia de mistério situada no Norte da Itália. A história passa-se em 1756 e é algo arrepiante: no teatro, onde se preparava para estrear uma nova peça, um jovem e talentoso actor aparece crucificado no palco, sem olhos, e com uma inscrição em latim gravada no peito com uma faca. O doge, autoridade máxima da cidade, encarrega secretamente Pietro Viravolta, um amigo de Casanova, aventureiro e sedutor como este, de investigar o caso. Para isso, Viravolta, que se encontrava preso, é solto, sob condição de não fugir da cidade. Ele aceita, porque está decidido a reencontrar o grande amor da sua vida, Anna. A cidade de Veneza, nesta época é fascinante - decadente, mas cheia de brilho, habitada por uma população fútil e amoral, que não acredita em Deus nem na razão, e só pensa em divertir-se – e, por si só, constitui um protagonista da história. A Armadilha de Dante é ao mesmo tempo um “thriller” cheio de suspense e uma história de amor, culminando tudo no misterioso e exótico Carnaval da cidade. O livro é recheado de referências míticas, sendo a história contada em nove capítulos, um por cada círculo do Inferno. As complexidades da intriga, cheia de mentiras e traições, também são de molde a elucidar o leitor sobre uma das Constituições.





O livro A Rosa do Deserto, de Linda Holeman, conta-nos a história de Daryâ, uma afegã do século XIX, desde a infância até à idade adulta.

Neste romance, a autora dá-nos a conhecer alguns aspectos da cultura deste povo, tão diferente da cultura europeia, mas também, a vida de uma rapariga de garra que lutou muitas vezes por aquilo em que acreditava, mesmo indo contra os ensinamentos que lhe tinham sido transmitidos.

O desenrolar da narrativa conduz-nos a diversos e distintos cenários, começando no Afeganistão, passando pela Índia e por Inglaterra.

É uma história envolvente que nos transporta até um mundo de fantasia, mas que também nos faz repensar a nossa própria vida.






As férias foram agradáveis e sossegadas, vou também deixar algumas fotos dos biscoitos que se fazem no forno da "casa grande".













segunda-feira, 2 de abril de 2012

Vou de férias até Martim




Vou dar um descanso ao meu blog esta semana; vou passar uns dias a Martim e vou ver se me consigo inspirar para continuar a contar as minhas histórias que tenho deixado um bocadinho para trás por não saber bem por onde lhe pegar.  


domingo, 1 de abril de 2012

Domingo de Ramos



Quando eu era pequena, era uso, no Domingo de Ramos entregar o ramo aos padrinhos de batismo. Escolhia-se um lindo ramo numa oliveira, levava-se à missa para ser benzido e depois era enfeitado com doces para se oferecer aos padrinhos e assim ter-se direito ao folar, que em Martim, podia ser um presente, desde dinheiro a lembranças. Lembro-me que o ramo que eu levava aos meus padrinhos ia quase sempre enfeitado com bolachas maria e caramelos de nata que vinham de Espanha. Com uma agulha e fio fazia-se um furo, dava-se um nó no fio e pendurava-se no ramo. Houve um ano, por volta dos meus 10 anos, que a minha madrinha me ofereceu um tecido que tinha vindo do Brasil, para fazer um vestido; devia ser de seda pois nunca me lembro ter tido um vestido tão bonito e tão confortável. As minhas filhas também chegaram a levar o ramo aos padrinhos quando eram mais pequenas, depois cresceram e é como tudo, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.   





"Quem diz o que entende, tão fora está de mentir, que antes mentiria se fizesse o contrário."

"A mentira apenas é um vício quando faz mal; é uma grande virtude quando faz bem."

"À minha volta reprovava-se a mentira, mas fugia-se cuidadosamente da verdade."

"A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer."

"A verdade é bela. Sem dúvida. E assim o são as mentiras."

"Assim como o mentiroso está condenado a não ser acreditado quando diz a verdade, é previlégio de quem goza de boa reputação ser acreditado mesmo quando mente."